Texto Bíblico: Lc.18:18-43
Certa feita um jovem me chamou num cantinho da igreja e me "confessou" seus "pecados capitais", os quais estavam lhe tirando a paciência, se transformando numa paranóia...
É possível estar perdido dentro da igreja?
Infelizmente é sim. Existem os que, como no caso do jovem acima, estão perdidos fazendo as coisas "'erradas" enquanto ninguém vê, mas existe outra classe de perdidos: aqueles que fazem tudo direitinho cumprem aparentemente tudo que a igreja pede; vivem preocupados, muitas vezes, com detalhes de regulamentos e normas, com o estereótipo religioso de tudo certinho e bonitinho, certos de que se sintam “santos” [porque para estes, o ser santo faz jus a sua jornada meritória das boas ações para com os conviveres da igreja] para os “ímpios” [são considerados - todo aquele que não faz parte do conceito evangélico doutrinário – os que se encontram fora das instituições evangélicas ] e justos em relação aos malévolos não-evangélicos, mas estão iguaizinhos perdidos!
Para a maioria evangélica esmagadora este ensinamento consiste num discipulado na "sã doutrina" dos Apóstolos...,
Lembro-me do jovem rico. Era um rapaz como qualquer jovem da igreja de hoje. Era membro de uma congregação cujos líderes se preocupavam muito com normas, leis e regulamentos. “Não pode fazer isto” “Não pode fazer aquilo”, “Fazer isto é pecado”, “Fazer aquilo também é pecado”. Aquele jovem judeu cresceu tendo um conceito errado de Deus. Imaginava-O assentado no Seu trono de justiça, ditando regras, com o rosto sério e uma vara na mão, pronto para castigar o desobediente.
Desde pequeno seus pais e os lideres da igreja exigiam o fiel cumprimento de todas as normas (esta doença doutrinária tem se instalado em tudo que é tipo de igrejas), obedece-se mais as regras e doutrinas de homens e seus comandos do que se se inclinam para o que Jesus pede para que se faça para nosso próprio beneficio espiritual.
Eram lideres preocupados com a imagem da igreja, e em última análise com o seu famoso business ministério pessoal. Atualizando um pouco a história, se uma girl vestisse calça comprida, por exemplo, eles a levariam à comissão; a jovem, como a amava sua igreja (o ministério do pastor) deixaria de usar essa roupa e todo mundo na igreja ficaria feliz, mas ninguém estaria preocupado com o que aconteceria lá no fundo do coração da moça. Importava era que ela cumprisse a norma, que ela fosse um bom membro da instituição. E o jovem rico aprendeu deste modo a cumprir todas as normas e leis. Decerto que uma forma bitoladinha de ser crente!
Aparentemente e somente para o lado de fora ele era um jovem bem-comportado, ativo na igreja, participava de todas as programações e cultos, podia ser apontado como exemplo para os outros, mas alguma coisa estava errada lá no fundo: NÃO ERA FELIZ, tinha a sensação de desprezo, medo e insegurança perenes, ele estava perdido apesar de cumprir tudo. Perdido estava ele de Deus e de si mesmo.
Certo dia anunciaram a chegada de Jesus à sua cidade. A história está narrada no cap. 10 do evangelho de S. Marcos. Os líderes da “igreja judaizante” foram os primeiros a sair ao encontro com Jesus, sempre preocupados com detalhes da lei [que mal interpretada na maioria das vezes e comumente, aleija a alma e mutila o ser] e das normas. "É lícito ao marido repudiar a sua mulher?” “É pecado cortar o cabelo?” “É pecado orar assentado?” “É pecado ter um pátio de recreações ao lado do templo?” “É pecado ir a praia?” – O senhor Jesus não se deteve muito a discutir com eles. Dirigiu-se aonde deteve um grupo de crianças, colocou-as no colo, com amor acariciou-lhes a cabecinha e beijou-lhes os rostinhos inocentes.
Ora, o jovem rico ficou emocionado ao ver o quadro. Ele nunca poderia imaginar que Jesus fosse capaz de beijar e fazer um carinho. Não era essa a imagem que ele tinha aprendido acerca do Filho de Deus.
Pela primeira vez na vida teve vontade de abrir o coração a alguém. Correu quando Jesus já estava saindo da cidade, ajoelhou-se perante Ele e disse: “Bom Mestre, que farei para receber a vida eterna?” Ele estava dizendo na realidade: "Bom Mestre que farei para ser salvo? Eu sinto que estou perdido. Não tenho certeza da salvação”
Por quê? Acaso não era um bom membro da igreja? Não cumpria com todas as normas?
Ah! Meu caro, cumprir, mandamentos nunca foi sinônimo de salvação. Ser um bom membro de igreja não quer dizer estar salvo. É de algum modo, possível obedecer a tudo e estar completamente perdido.
Perdido, dentro da igreja!
Jesus tentou levar o jovem do conhecimento ao desconhecimento, o jovem conhecia a letra da Lei, as normas, os regulamentos, e Jesus lhe disse “Guarda os mandamentos”. “Este foi um tratamento de choque, “Senhor”, disse o jovem confuso, “tudo isso tenho observado desde criança, mas a angústia não desaparece, o desespero aumenta, a sensação de estar perdido é cada vez maior”.
Resultado, Jesus olhou para ele com ternura e o amou. Sabe?
Lá na Judéia, além do Jordão, séculos atrás, Cristo olhou com amor para o jovem rico. Viu seus conflitos internos, suas lutas, suas angústias perenes. Viu sua desesperada situação: Perdido dentro da igreja, perdido cumprido todos os mandamentos, perdido obedecendo a todas as normas e os comandos de seu líder.
Sabe qual é o [seu] problema, filho? – disse Jesus- apenas um: Você não Me ama. Em seu coração não há lugar para Mim, em seu coração só há lugar para o dinheiro. Você está disposto a guardar mandamentos e os comandos de seu líder, mas você não Me ama, e enquanto não Me amar Eu não aceito nada de você. Não adianta guardar os mandamentos, cumprir as normas, obedecer a regulamentos apostólicos; se você não Me ama, nada disso tem sentido e você continuará com essa horrível sensação, com o coração oco, com esse vazio na alma!
Vamos fazer uma coisa, Meu querido filho, você agora vai pra casa, tira do coração o amor às coisas deste mundo (e o mundo de coisas que habita o seu coração), coloca-Me como o centro de sua vida, então venha e siga-Me!”
O texto diz que o jovem, “contrariado com esta palavra, retirou-se triste”. Que desgraça! Estava mais pronto a guardar os mandamentos do que amar o Senhor Jesus. Por quê? Talvez porque é mais fácil aparentar que se é bom do que se entregar escancaradamente o coração a Deus em amor.
É possível que você esteja pensando: “Felizmente eu não tenho riquezas”. Pode ser. Mas, às vezes não precisamos ter riquezas para destronar Jesus do coração. Seria possível eu amar mais uma celebridade midiática do que Jesus? Um esporte, uma namorada, uma profissão, os estudos, coisas até boas, poderiam ocupar o lugar de Cristo no meu coração?
Poderia ser que eu amasse mais a minha igreja, a doutrina de minha igreja, o nome de minha igreja (o ministério do pastor) do que o Senhor Jesus?
Pergunto a você: Qual deveria ser a nossa primeira preocupação, amar a Jesus ou guardar as normas? Às vezes, estamos mais preocupados que os jovens obedeçam às normas e não que amem a Jesus. O interesse de Jesus é diferente: “Dá-me, filho meu, o teu coração”, diz Ele enquanto bate à porta do coração da Igreja (humano).
Há algo que nunca deveríamos esquecer: é possível de alguma maneira cumprir normas sem amar Jesus [é o que gera através do medo de Deus, o legalismo religioso desprovido de amor a Deus], mas é impossível amar Jesus e deixar de cumprir as normas [quando se ama a Deus, também se obedece sem medo, mas com temor e amor].
Então, qual deveria ser o nosso interesse, o nosso grande objetivo?
Se o ser humano amar a Jesus com todo o seu coração, não será capaz de fazer algo que magoe o seu redentor [deverá ser esta a sua volição]. Sua vida, em conseqüência, será uma vida de obediência.
Sabe qual é o nosso grande drama na vida espiritual? Sabe por que não somos felizes na igreja?
Faltam paixão e amor por Cristo!
Estamos na igreja porque gostamos dela, e as doutrinas com "cara-de-Deus" nos convenceu direitinho (nos adaptamos as suas fórmulas espiritualizadas quanto ao ambiente sociocultural); o pastor fez um apelo irrecusável. Estamos na igreja porque nossos pais querem, ou então, para agradar aos filhos ou a esposa, ou simplesmente porque todo ser humano tem que ter uma religião, mas não porque amamos a Jesus a ponto de dizer: “Eu não posso viver sem Ti!”
Enfim,
Muitos cristãos talvez pudessem dizer: “Senhor, estou na igreja, batizado há cinco, ou dez ou quinze anos. Nesse tempo todo, de alguma maneira, cumpri o que a igreja pede, mas nunca fui feliz”.
Por quê?
Porque não é possível ser feliz ao lado de alguém que não se ama. Conviver ao lado de alguém que se ama já é uma tarefa difícil, imaginem quando não há amor. Nunca poderemos ser felizes estando na igreja porque nascemos nela, ou através da pressão social, religiosa ou familiar.
Todos os motivos só têm algum sentido quando o grande motivo é o amor por Cristo. Se não for assim, a vida cristã se tornará um “inferno”, um fardo horrível para se carregar. Fazer as coisas só porque estamos batizados, só porque temos que cumprir as normas de uma igreja que assumimos, só para agradar aos homens é a pior coisa que pode acontecer. Sempre estaremos pensando em sair, abandonar tudo, ou então, quando ninguém vê, estaremos fazendo coisas erradas.
Todas as normas da igreja, todas as coisas que tenhamos que abandonar. Tudo que tenhamos que aprender terá algum significado unicamente quando o amor de Cristo constranger nosso ser.
Portanto, a nossa primeira oração não devia ser: “Senhor, ajuda-me a guardar os Teus mandamentos”, mas “Senhor, ajuda-me a amar-Te com todo o meu ser.”
O jovem rico partiu triste e não voltou mais. Estava pronto a ser um bom membro de igreja [e quem sabe, um mero objeto de fetiche daqueles lideres doentes pela Síndrome do Meu Ministério!], mas não entregar de fato o coração para ser circuncidado pelo Mestre!
Jovens eu vos escrevi porque eu sei que vós compreendendo a Palavra de Deus deixarão de ser espiritualmente enganáveis, e assim vencerão o Maligno!
Na mesma Graça,
Mano Serafim