(o) Meu ser deseja ter, mas seres sem teres, pois, o ser se consolida quando entendemos que, pra se ser não se pode ter, antes se desprende(r) dos teres para que assim sem os teres tu seres tu.
Sem a conversinha fiada dos púlpitos de auto-ajuda da cristandade, o Evangelho de Jesus Cristo exige uma convincente explicação menos oca e mais visceral em relação a tal retórica acerca do discurso capitalista dos lideres carismáticos sem conteúdos – “Quem não renunciar a tudo que tem não pode ser meu discípulo” - ser um verdadeiro discípulo de Cristo, requer renúncias próprias!
Poucas são as igrejas e comunidades evangélicas que não aderiram a stª teologia anti-miséria da aquisição dos bens materiais (que visa os teres) e que vai contra a proposta de Jesus e do evangelho – “Quem não renunciar a tudo que tem não pode ser meu discípulo”.
Mas que palavra dura essa de Jesus. Evoca o íntimo do homem entre duas expressões tão conflitantes quanto paradoxais nesta frase: o ser – e o ter.
O homem sem o sacro - o mundano só se preocupa com o seu umbigo, se foca em ter, nos teres do plano horizontal, em acumular riquezas, porque acredita que ajuntando bens nesta vida será feliz, posto que, o seu conhecimento se limita na perspectiva horizontal dos teres e segue ingenuamente que tais aquisições são seus bens...
Deveras alguém obter muitos bens materiais no plano horizontal de seus teres e ser ao mesmo tempo mendigo indigente na zona vertical do seu ser um miserável. Porque de tanto ter, não chega a ser ninguém, nem ele próprio.
Já o homem que se descobriu pelo evangelho na alma, e recebeu a chancela no seu eu verdadeiro, resolveu renunciar a todos os profanos teres, e mergulhou isoladamente no seu puro ser, isto é, na divina essência de seu eterno eu (imagem divina), sua alma, seu Cristo interiorizado, este se livrou de seu EGOcentrismo.
No N. T. temos o exemplo do jovem rico ( tão possuído pelos teres deste mundo imediato que ficou entalado diante do convite renunciador de Jesus) disse-lhe Jesus: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me".(Mt.19:21).
Se o evangelho da graça de Deus não nos salvar de todas estas estruturas paganizadas e arruinadas ensinadas hoje como essencial ao cristão pelos falsos mestres do engano, o poder que Paulo afirmou ter o evangelho nada valha para quem creu e decidiu seguir o Deus de toda a graça enamoradamente em seu verdadeiro ser, desprezando ilusoriamente todos os teres deste mundo caído, sendo um ente que aprendeu a viver sem a megalomania do ter.
Sabe-se que Jesus testemunhava publicamente que não tinha nem um lugar onde reclinar a sua cabeça e mesmo assim Ele dizia, quer ser um crente, quer ter fé, quer andar pelas águas, quer destronar reinos e territórias dos domínios do mal? Vem, mas primeiro você precisa apenas ser.
Decerto que o ter só existe porque há o meu...mas quando dizemos Tu, o amor do Mestre domina a nossa alma. Posto que, visa primeiramente o Tu, o próximo, e não eu, digo, a mim.
Mas alguém a esta altura deve estar me perguntando:" Mano mas nesta vida não é importante termos algo mais que o pão de cada dia? Não nos seria prudente?" - Não!
Jesus nos ensinou que bastasse o mal de cada dia...Se optássemos pelo "administrar" - teríamos assim saudável-mente a mesma perspectiva de Abrão...Abraão discerniu que tudo que existe neste mundo e universo vem e é de Deus - Deus é quem manda - inclusive no dinheiro e em todas as riquezas (somos seus mordomos?) - e daí o egoísmo seria banido dentre os homens coletivamente, mas parece que Abraão era muito primitivo no pensar assim [por isso depositou todos os seus dízimos nos pés de Melquisedeque] para nós, principalmente para os da teologia da prosperidade que visa os teres...
Hoje o ser uma nova criatura em Cristo tornou-se tão de plástico que, no afã de "salvar o mundo por seu evangelho", o homem termina se perdendo por inteiro nos seus teres...
M Serafim (verão 2010).
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