Por Mano Serafim
A poesia está presente mesmo em ambientes mais séquito e árido da vida humana em dores...
A poesia está presente mesmo em ambientes mais séquito e árido da vida humana em dores...
Na composição poética judaica encontramos o livro de Jó permeado de textos que revelam o sofrimento humano em forma de poesias. Aliás, este foi o “livro” que os hebreus mais leram no seu período de cativeiro na babilônia.
Imaginando que em momentos de infortúnios e desesperos o povo de Deus (povo da aliança) buscava encontrar conforto pra a alma no bálsamo contido nas Escrituras Sagradas do livro de Jó. A fé no invisível realça e acende a cor da alegria no horizonte da vida de lágrimas que visa encontrar em Deus, repostas para o sofrimento humano. Eis aqui um dos homens que na história do A.T. que peitou a Deus!
O livro/narrativa de Jó parece ter sido escrito para explorar os limites exteriores da injustiça. Chegamos até a pensar que a justiça divina seja de fato uma injustiça – Jó, o homem mais reto, mais excelente de toda a terra, tem de passar pela pior das calamidades. Sofre castigos insuportáveis – mas por quê? O que ele fez de errado?
O drama de Jó narrado na Bíblia abre uma discussão longe de se esgotar em relação ao conceito humano sobre o sofrimento, e principalmente sobre o sofrimento do justo nesta vida ordinária... Dai a coragem de Jó em dar voz à pergunta “Deus é injusto”?
Jó aprende através de seu sofrimento que nem sempre na vida o bem visita os homens bons, ou nem sempre o mal se apossa dos homens maus..., poder ver isso para além do bem e do mal, é necessário um entendimento que rompa com a perplexidade e obtenha consenso com o absurdo. É poder acreditar numa redenção divina mesmo sem os tentáculos visíveis da esperança, do dogma e da doutrina cristã.
Posto que o Livro de Jó não traga em si dogmas e crendices abstratas e compiladas de outras religiões rotas, mas revela intimamente o grande desejo de um homem que via por meio das dores uma linha tênue entre o ser e o possuir.
A velha disputa entre o bem e o mal - Deus e Satanás, mais uma vez põe a humanidade como objeto de inquirição entre o céu e o inferno idealizado..., Provoca uma interação do próprio leitor que investiga simultâneamente a ação dos amigos de Jó quanto à presunção de homens ignorantes no conhecimento de Deus, para eles, o ser ou não ser não tinha tanta importância, porém, veneravam o parecer.
Distante de qualquer pensamento que fosse compungido no coração doido de Jó, Deus deixa claro na sua fala que nenhum pecado fora achado em seu servo Jó. Da mesma forma Satanás não poderia acusá-lo de mal algum diante de Deus!
Assim como a velocidade da luz, a noticia ruim corre velozmente, numa velocidade tal que a noticia do estado deplorável de Jó chegou rapidamente aos ouvidos de seus amigos.
O livro de Jó narra talvez, o sofrimento “imerecido” de um homem justo (íntegro) que viveu na mesma contemporaneidade de Abraão. Como também revela o favor imerecido de Deus em relação ao homem justo, Jó.
Quando Jó chegou ao seu limite diante daquele terrível estado de sofrimento e o que via diante de si era somente dor e perplexidade, o seu silêncio é interrompido por “Só desejo entender o porquê deste sofrimento”- Nos tempos de Malaquias, as pessoas haviam perguntado “O que ganhamos seguindo a Deus”? E essa pergunta é o cerne da provocação de Jó. De acordo com ele, ninguém jamais seguiria a Deus se não fosse devido a algum ganho egoísta. Claro que Jó não tem culpa de nada e é em um homem correto; mas é também rico e saudável. Retire essas coisas boas de sua vida, Satanás desafia, e a fé desse homem desaparecerá com suas riquezas e saúde.
A reputação de Deus está em jogo nesse livro (segundo a fala dos amigos de Jó), dependendo da reação incerta de um homem desolado, miserável. Jó continuará a confiar a fio em um Redentor vivo, no momento mesmo em que o mundo desmorona a sua volta? Acreditará em um Deus de justiça mesmo quando sua vida perece de uma injustiça grotesca?
Se vestido de uma percepção aguda, o leitor perceberá que no primeiríssimo capitulo do Livro, responde a principal inquietação de Jó: ele não fez nada pra merecer tamanho sofrimento. Nós, leitores, sabemos disso, mas ninguém conta nada pra Jó e seus amigos, seus amigos montaram arquétipos teológicos de uma Teologia sobre Causa e Efeito. Como o prólogo revela, Jó está envolvido em um teste cósmico, um jogo proposto no céu, mas acenado na terra.
Quase todos os argumentos sobre o problema da dor aparecem em algum lugar do livro, porém a argumentação nunca parece ajudá-lo muito. Ele vive uma crise de relacionamento mais do que uma crise de questionamento intelectual. Ainda pode confiar em Deus? Tem algo que Jó deseja acima de tudo: a manifestação da única pessoa capaz de explicar seu destino miserável. Quer se encontrar com Deus face a face.
Acredito que ninguém nem mesmo Jó, nem qualquer de seus amigos - está pronto para ouvir o que Deus tem a lhe dizer. Jó até preparou uma longa lista de indagações, mas é Deus, não ele, Quem faz perguntas. “Prepare-se como simples homem”, ele começa, “vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá. “Deus imerge Jó em um poema sobre as maravilhas do mundo natural e linear Conduz seu servo Jó pela galeria da criação, apontando com orgulho alguns favoritos como cabras montesas jumentos selvagens, avestruzes e águias. (cap.39)
Saindo da linearidade animal e verticalizando no plano cósmico, o discurso do Senhor define a grande diferença entre o Deus de toda a criação e um homem insignificante como Jó. “Seu braço é como o de Deus”? Pergunta ele em determinado momento (40.9).
Ora, sem a ajuda cientifica do Discovery Channel e do National Geographic, Deus enumera em rápida sucessão fenômenos naturais – o sistema solar, as constelações os temporais, os animais selvagens – que Jó não consegue nem imaginar como explicar: O que Deus está querendo dizer é óbvio: se você não é capaz de compreender o mundo visível em que vive, como ousa esperar compreender um mundo que não consegue nem ver.
O que Deus diz não é nem de longe tão importante quanto o simples fato de ele ter aparecido. Sua presença responde de maneira espetacular a maior questão de Jó: tem alguém aí? “certo é que falei de coisas que eu não entendia”, Jó confessa “coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber”. Tendo, enfim, enxergado o quadro geral, ele se arrepende “no pó e na cinza”.
Satanás apostou com Deus acerca de Jó que “com certeza ele te amaldiçoará na tua face”(1.11). Perdeu. Apesar de todo o seu drama e sofrimento Jó não amaldiçoa o Senhor.
Moral da história: o incrível e assombroso. É que Jó não tinha a ciência de que Deus, do melhor homem da face da terra faria o melhor homem de Deus.
Este livro me daria centenas de linhas ou mesmo um excelente compêndio da sã doutrina rechaçando a famigerada Teologia da Prosperidade vigente.
Todavia este artigo presta serviço ao combate da graça barata e mercantilizada que os doutores das falcatruas apostólicas professam e praticam no meio do populacho.
Mano Serafim
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